Contexto Histórico da Saúde Mental - Colunista Steleyjanes

Contexto Histórico da Saúde Mental - Colunista Steleyjanes

Uma das maiores características da atualidade é o imediatismo, existe uma busca persistente e constante em satisfações, realizações e respostas quase que instantâneas às demandas do ser humano e com isso evidencia-se a mesma postura no que diz respeito à Saúde, ainda muito mais curativa do que preventiva.

Inegavelmente a população em geral busca cuidar da saúde quando já está instalado um processo de dor e ou adoecimento, e não é diferente quando nos referimos a Saúde Mental, poderíamos sinalizar que ainda um pouco pior, por se tratar de algo invisível e carregado de preconceitos.

Muitas pessoas ainda tem dificuldades de admitir e procurar um profissional da área de Psiquiatria e ou Psicologia pelos receios de serem taxados de “loucos, fracos, sem Deus, ser frescura”, e com isso ficam e vivem por anos sofrendo de forma calada e isolada, sem buscar ajuda adequada até chegar no limite do adoecimento e algo que inicialmente poderia ter sido cuidado com maior tranquilidade, por vezes acaba se transformando em algo delicado, demorado e grave, atingindo não somente a vida de quem começa a desenvolver um transtorno, mas de todos que estão ao seu redor.

Toda essa dificuldade, negação e ou preconceito em relação à Saúde Mental tem relação de como a loucura foi vista desde os primórdios e o quanto alguns aspectos permeiam a nossa cultura, valores e crenças.

A Loucura é um termo conhecido de todos e ao longo da história o conceito foi sendo modificado conforme o contexto do momento, mas não pode-se negar que tudo que temos e conhecemos até a atualidade sofre e sofreu influências positivas e negativas, muitas delas muito cristalizadas e que dificultam muitas pessoas buscarem ajuda.

No período da Idade Média até o Renascimento existiu um enfoque relacionado mais ao aspecto mitológico e religioso em que a loucura era compreendida como sendo algo  sobrenatural, forças não humanas, em alguns momentos como sendo um privilégio para a pessoas por possuir saberes que outros não possuíam, como se fosse algo divino, em outro momento como forças maléficas, demoníacas, que deveriam ser exterminadas sejam quais os métodos, isolando, expulsando as pessoas do convívio com a sociedade ou rituais de exorcismos, até por fim queimar em praça pública.

Especificamente no Renascimento surge um olhar para a Loucura, contextualizada no enfoque passional e Psicológico, essa compreensão perpassa então na ausência de uma razão ou excesso de paixões que fariam uma pessoa agir de forma diferenciada, perdendo o lugar social de sabedoria e precisam ser confinados, surgindo os primeiros asilos com este propósito de um tratamento mais embasado na ordem moral, tendo como “base de cuidado”, o excesso de disciplina, rigor nas punições métodos utilizados e silenciamento.

No Século XIX que inicia de forma mais direcionada a loucura como alvo de interesse da Ciência Médica, marcando o aspecto organicista, ter espaços próprios que na ocasião chamados de manicômios, eram utilizados não apenas para serem tratados, como também estudados. Surge então a Doença Mental, e a loucura como um transtorno Mental, produzida por disfunções cerebrais.

“... a loucura passa para o domínio da ciência, deixando de ser uma questão social, moral e jurídica de exclusão para ser uma questão médica de exclusão. ‘Cria-se’a doença mental” (Providello e Yasui, 2013: p.1520).

Em importante ressaltar, que a Loucura é entendida conforme os conhecimentos e escutas da sociedade ao qual se vivia, levando-se em conta todas as normas organizacionais daquele povo, dos estudos, valores e crenças da época.

Nesta transição do Século XIX para XX surge um dos nomes mais conhecidos na Saúde Mental, o cientista e médico Sigmud Freud, conhecido como o pai da Psicanálise, aponta para uma estrutura psíquica de inconsciente, consciente e superego, apontando para a forma como o inconsciente influencia a experiência humana e de que a Loucura seria uma maneira em que o sujeito encontraria para lidar com ele mesmo e com o outro. O trabalho de Freud até hoje é de fundamental importância no entendimento de muitas situações de mecanismos de defesa, sintomas, histerias, perversões dentre muitos transtornos.

Na Década de 80 inicia um grande movimento sobre a forma como as pessoas eram tratadas dentro dos Manicômios/Hospitais Psiquiátricos repensando a maneira de tratamento, o que se chamou de Luta Antimanicomial, e no Brasil não foi diferente de outros Países, havendo inúmeras e intensas manifestações sobre o que seria normal e anormal, mas principalmente a importância do direito e resgate da cidadania da pessoa com sofrimento psíquico, desabonando um tratamento baseado de forma central nos aspectos medicamentoso e no aprisionamento das pessoas, em que a grande maioria foram abandonados perdendo totalmente o vínculo familiar.

Com a essa reforma Psiquiátrica surgiram o tratamento psicossocial, tendo como premissa o trabalho multidisciplinar abordando o sofrimento psíquico e os transtornos com as várias intervenções necessárias, com suporte de profissionais da Psiquiatria, Psicologia, Serviço Social, Terapeuta Ocupacional, Enfermeiros, Técnicos de Enfermagem, Educadores, Pedagogos, familiares, todos envolvidos para o bem estar do usuário acolhido nas Redes de Atenção Psicossociais.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) sinaliza que Saúde Mental refere-se a um bem estar no qual o indivíduo desenvolve suas habilidades pessoais, consegue lidar com os estresses da vida, trabalha de forma produtiva e encontra-se apto a dar sua contribuição para sua comunidade. (OMS 2013-2020).

Em relação às crianças, a saúde mental implica pensar os aspectos do desenvolvimento, tais como: ter um conceito positivo sobre si, ter tanto habilidades para lidar com seus pensamentos e emoções, quanto para construir relações sociais, tendo uma atitude de se abrir para aprender e adquirir educação. Em última análise, tudo o que pode possibilitar uma participação ativa na sociedade. (OMS 2013-2020).

É fundamental compreender que o sofrimento psíquico é algo pertinente e pertencente à todo o ser Humano,  todos em alguns momentos em seu processo de desenvolvimento terão que lidar com sentimentos, angústias, medos, frustrações causados com o desemprego, morte de alguém, mudanças inesperadas, etc, para tanto, é importante uma postura acolhedora sem preconceitos, para que desta forma possa-se também ser desenvolvida uma postura preventiva no que se refere à Saúde Mental, em que a pessoa possa buscar alternativas de cuidados, antes que um transtorno se potencialize e uma situação que a princípio seria de autoconhecimento, ressignificação e fortalecimento se transforme em algo mais complexo de ser tratado.

Cuidar de si é fundamental para se viver de forma mais saudável, segura, realizada e feliz!

Brevemente iremos dialogar um pouco sobre os Mitos e Verdades que permeiam sobre a Saúde Mental.

Por: Steleyjanes Galdino Rodrigues.

 

 

 

Referências.

Almeida Filho N, Coelho MTA e Peres MFT. O conceito de saúde mental. Revista USP, 43, p. 100-125: 1999. Disponível em: https://bit.ly/2ztsYE1 

COLOMBO (Município). Secretaria Municipal de Saúde. Programa de Saúde Mental. Protocolo de saúde mental. Colombo, 2011. Disponível em: < http://www.sgc.goias.gov.br/ upload/links/arq_320_abordagemsuscrack.pdf>. Acesso em: 11 dez. 2017.

BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde mental: cuidar em liberdade e promover a cidadania. Brasília, 2004. (Caderno Informativo do Congresso Brasileiro de CAPS).

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Acolhimento nas práticas de produção de saúde. 2. ed. 5. reimp. Brasília, 2010.

PORTARIA MS/GM Nº 3.088, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2011. Institui a Rede de Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

PROVIDELLO GGD e YASUI S. A loucura em Foucault: arte e loucura, loucura e desrazão. Revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 20, n. 4, p. 1515-1529, 2013.

 

 

Steleyjanes Galdino Rodrigues. CRP.03/3092.

- Graduada em Psicologia – UNIVALE – MG – 2001;

- Pós Graduada em Psicologia Hospitalar.  2004;

- Pós Graduada em Obesidade e Emagrecimento – 2006;

- Pós graduanda em Sexualidade e Psicologia;

- Pós graduanda em Psicologia Perinatal e da Parentalidade;

- Doutoranda em Educação. Universidad Católica de Santa Fé, UCSF, Argentina (trancado)

Atuação.

- Atendimento Clinico Adulto, Adolescente e Criança;

- Coordenadora Setor Psicologia Hospital Maternidade Alagoinhas.

Algumas Experiências Anteriores.

- Psicóloga do SAE/CTA; (por 9anos e meio)

- Presidenta Conselho Municipal de Saúde- CMSA; (2 anos)

- Vice Coordenadora GTI Alagoinhas, (CRP/03); (1 ano)

- Psicóloga Unidade de Terapia Intensiva HCA; (8 anos)

- Docente Faculdade UNIRB (Direito, Enfermagem, Nutrição, Fisioterapia, Educação Física, Psicologia); (8anos e meio)

- Docente Faculdade Santo Antônio (Enfermagem); (apenas um semestre, fui para Unirb)

- Coordenadora do CREAS; (por um ano);

- Diretora de Inclusão e Promoção Social; (por 2 anos e meio)

- Psicóloga Pastoral do Menor de Alagoinhas. (4 anos e meio)

-Atendimento em clinicas: Intotus (7 anos) e CEM (3anos e meio).